Thursday, May 2, 2013

Tale #1

Há um café na rua Fontes Pereira da baixa lisboeta chamado "La Rochelle", todos os pequenos detalhes desde o bordado da toalha de mesa até à janela com um cortinados de chita a cobrir os canteiros de rosas que pendem para a rua transmitem hospitalidade e tranquilidade.
Está agora um rapaz a dirigir-se em passo de corrida para a porta, é natural, ele é o empregado e já passam 20 minutos da sua hora de entrada. Quando ele entra a sr. Arminda uma bolinha vestida de cetim, espeta o dedo gorducho com a aliança estranguladora e comprime os lábios em sinal de aviso, ao qual ele não faz caso apressando-se a vestir a farda laranja e o avental verde para ficar com o aspecto de laranjinha. Para completar o traje coloca um chapéu ridiculamente parecido com os da tropa para a sua cor condizente com a farda e respira fundo.
Ao virar-se para o balcão fá-lo no timing prefeito para ver uma entrada em câmara lenta. A rapariga de que se fala tinha estado havia 5 minutos cá fora a apreciar o edifício (ou então a decidir se entrava) e estendia agora a mão que vestia uma luva branca de elástico no pulso para a maçaneta puxando-a e colocando um pé na ombreira da porta, hesitou novamente e entrou.
Finalmente rapariga!, o rapaz ficou ainda uns trinta segundos sem a capacidade de respirar porque o coração não batia!
Uma vez lá dentro sentou-se ao balcão e começou a retocar o batom vermelho garrido que ficava tão bem com o look que hoje trazia. Desde a cara emoldurada pelos caracóis semi-cobertos por uma boina branca, aos sapatos pretos de fivela, passando pelo vestido preto rodado aqui estava um conjunto para derreter corações.
O rapaz aproxima-se dela lançando um sorrido enviesado que só lhe acentuava as rugas de felicidade em torno dos seus olhos cor de avelã e dirige-lhe um "deseja alguma coisa?" a rapariga cora um pouco pelo galanteio e responde, ao que o rapaz se afasta para proceder à realização do pedido.
Ela segue os seus movimentos com os olhos disfarçando o atrevimento pela cabeça baixa e quando o rapaz volta com uma chávena e um saco aproveita para o olhar no olhos e dizer obrigado.
Surgiu um problema, ambos ficaram presos no olhar um do outro e agora a chávena ressaltou em direcção ao chão. E aí é que o verdadeiro rubor atinge a face de ambos, enquanto a rapariga lhe pede desculpa e ele tenta desculpá-la.
Ela agarra no saco e saí com a promessa de voltar ao que o rapaz responde um com um sorriso resplandecente, sai do café e dirige-se então para um velho vagabundo que está sentado na esquina ali perto e entrega-lhe o saco.
Oh! espera, esse velho sou eu!
- Obrigado menina, deus a abençoe!
- Não tem de quê! até amanhã António.

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