Sunday, October 20, 2013

Um "Monstro" Actual

Acordo de manhã e dirijo-me, ainda meio ensonada e pouco ciente da realidade, à banheira embutida no chão, que os meus pais insistiram em dar-me quando eu revelei algum interesse por ter uma igual aquela actriz de cinema… como se chamava? Já sei! Penélope Cruz.
Tomei banho e vesti-me, meio à pressa que o frio nesta região não perdoa, resultando uma pessoa com roupa enfiada onde cabia.
Fui directamente para a cozinha, onde comi o que consegui até enjoar e não conseguir comer mais, peguei nos livros preparados de véspera, era dia de educação física e isso era igual a ir carregada para a escola, e corri para a paragem de autocarro. Como sempre ao sair de casa os meus vizinhos deram-me os bons dias e eu fingi-me feliz, fingi que ignorava que esta delicadeza era cortesia de uma conversa prévia realizada pelos meus pais quando descobriram a minha “situação”. Era certo como um relógio! Eu saía às 8:00, eles estavam em posição, a fingir que regavam os jardins às 7:15, para o caso de eu sair mais cedo. Se espreitasse pela janela podia vê-los a irem para as suas posições da praxe.
Mas enfim, entro no autocarro e a história repete-se, com a particularidade de me deixarem um lugar vago à frente. Não olho para ninguém, o que quero mais é evitar ver os olhares de pena e medo das pessoas. Chego à escola e vou de cabeça baixa aos cacifos, nunca vi os meus companheiros dos cacifos do lado, imagino-os a irem de roupa preta a meio da noite armados em espiões realizando as maiores peripécias para não deixarem marcas e com essa imagem sorrio.
As aulas passam a correr com uma participação pouco activa da minha parte. A história do pequeno-almoço repete-se ao almoço. De novo aulas.
O dia acaba e eu suspiro de alívio quando o meu pai me vem buscar à escola. Como sempre pergunta-me como correu o dia e eu respondo o que sempre respondo: “Bem”. Ele fica-se por aí, não sabe lidar comigo, ninguém em casa sabe.  Paramos em frente ao hospital e ele diz que me vem buscar à hora habitual.

O meu nome é Lúcia, eu tenho SIDA.

1 comment:

  1. Eu vi o Wipeout no canal FX mas se não tiveres esse canal podes ver no youtube,tem episódios completos lá.

    ReplyDelete